terça-feira, 30 de setembro de 2014

DIA 08 - SÃO GONÇALO DO RIO DA PEDRA A DIAMANTINA - 32 KM

ALTIMETRIA POR TRECHO


Detalhes do Caminho


São Gonçalo do Rio das Pedras a Diamantina - O percurso varia entre subidas e descidas. O trecho é percorrido ao lado da Serra do Espinhaço o que garante sua beleza. A Gruta do Salitre, cuja entrada está próxima ao marco 251, é um atrativo interessante. Antes de chegar a Vau, pelo menos duas paradas serão obrigatórias: No antigo calçamento utilizado pelos tropeiros e na ponte que corta o Rio Jequitinhonha, datada do século XVII. 




Em Vau há infraestrutura para o turista. Entre Diamantina e São Gonçalo será possível avistar o Pico do Itambé, sendo uma referencia. Chegar a Diamantina, uma das cidades mais importantes da era colonial, é ter a chance de mesclar a modernidade com a história, através de todos os casarios coloniais, moradias de personagens da história mineira, além de ser possível conhecer suas belezas naturais como o caminho dos escravos, belas grutas e cachoeiras, além do povoado de Biribiri. 


Gruta Salitre
Cachoeira dos Cristais
O que vemos em Diamantina? 

  • Igreja metropolitano de Santo Antonio
  • Chafariz do rosário
  • Caminho dos escravos
  • Residência onde nasceu Juscelino Kubitschek
  • Casa da Glória (prédio construído em XVIII)
  • Passadiço das Dores (para as meninas passarem de um lado para outro sem ter de passar pela rua, lugar imoral)
  • Mercado dos Tropeiros (1835)
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Diário de Bike

Acordamos às 7h e nos reunimos no refeitório magnífico da pousada. O café da manhã completo, foi perfeito. Eu amo iogurte natural caseiro e para minha alegria, tinha um pote imenso... me acabei! 




Nosso último café da manhã, reunidos, em prol do Caminho dos Diamantes...


Fiquei muito feliz, pois ontem, Maria me havia dito que hoje terminaria o caminho de ônibus... mas ao acordar, se equipou para pedalar... isso é viajar de bike!

Antes de partir, perguntei a nossa querida anfitriã, com um sotaque que definitivamente não é brasileiro, de onde ela era e como veio parar aqui... Ela então nos contou que na década de 70, seu marido fora transferido da Suíça para uma empresa no Rio de Janeiro. Ao vir para cá, ela e uma amiga, deram início a uma empresa de turismo ecológico, que trazia uns gringos para conhecer o Brasil. Ela se interessou muito pela história dos tropeiros e, devido a isso, criou um roteiro que contemplava desde a serra do Cipó até Diamantina... isso muito antes de ser dado início ao projeto Estrada Real (Projeto Estrada Real - 1996). Ela se apaixonou pela cidade de S. Gonçalo e todas as belezas daqui. Quando seu marido deixou a empresa, surgiu a oportunidade de comprarem a casa onde é hoje a pousada, uma antiga escola da comunidade. Inicialmente eles criaram uma colônia de férias, para crianças, e mais tarde tornou-se uma pousada, a mais antiga da Estrada Real! Amei sua história, desprendimento e coragem! Foi um prazer imenso conhecê-la e ganhou vários fãs... obrigada por tudo, minha querida, e espero de coração que seja um 'até breve'. 

Olha nossa foto de partida, com a participação especial de Anna Maria, 'atuando' com a minha bike!


Antes de partir, eu precisava cumprir uma importante incumbência, solicitada por nosso querido amigo Fernando Gonçalves, de Bom Jesus do Amparo. Recebi uma correspondência destinada ao Sr. Ademil, um senhor proprietário de um bar em S. Gonçalo. Muito bem retratado em muitos blog's que li sobre o caminho, estava ansiosa por conhecê-lo. Por sorte seu bar está localizado exatamente em frente ao Refúgio 5 Amigos e abre muito cedo. 



Assim que entro pergunto: Quem é o famoso Sr. Ademil? Ao que ele responde: Sou Ademil, mas não sou famoso... damos risada e digo: Então como sei que o sr. tem um bar, com bebidas que tem cobras e escorpiões dentro, que tem almoço e janta maravilhosos, além de saber que o senhor é uma pessoa boníssima? Ele ri e diz que tudo isso não passa de uma grande fofoca. Após nossa proza inicial, digo que sou portadora de uma importante mensagem remetida de Bom Jesus do Amparo. Ele logo sorri e já imagina de quem seja... ao lhe entregar a correspondência, ansioso, antes mesmo de me ver partir, abre a mensagem e começa a lê-la... mas eu sou 'tropeira' e, por isso, tenho que seguir viagem, pois nosso destino hoje é Diamantina!


Damos um até logo, a nosso querido amigo, e seguimos viagem. 

Assim que saímos de S. Gonçalo, tenho a impressão que descemos tudo o que levamos 7 dias para subir. Pegamos uma descida de uns 3 km e as vezes, se fazia necessário, parar para descansar as mãos dos freios. No meio desta longa e inclinada descida, vemos  a bela ponte, lá de cima, que está localizada bem próximo ao distrito de Vau. Esta ponte, datada do século XVIII, corta o rio Jequitinhonha e chama muito nossa atenção, tanto por sua conservação como por sua beleza. 









Após muitos click's, seguimos ansiosos com o que veríamos a frente. Rapidamente chegamos ao povoado de Vau e somos alertados a respeitar os costumes daqui, que perfeito!


Para a nossa tristeza, o único bar do vilarejo, estava fechado... mas o proprietário, ao ouvir nossa voz, rapidamente o abriu! O nome do bar é muito propício, pois este será o último lugar para nos abastecer antes de Diamantina. 




O interessante é que o nome do bar varia... caso esteja indo para Ouro Preto o nome do bar passa a ser: Primeiro Gole. Ao nos contar isso, saio e faço outra foto, agora, do ângulo de quem está vindo de Diamantina... 


Este pequeno povoado é rodeado de belas montanhas, o que faz da paisagem muito charmosa!




Acho muito interessante a forma primitiva como algumas pessoas vivem ainda hoje. Com tantas ofertas de máquinas lavadoras, capazes de lavar 15 Kg de roupas, em apenas alguns minutos, conhecemos a 'lavadora' infalível, desta pequena comunidade. A 'máquina' conta apenas com uma operadora humana, uma bacia de alumínio, uma pedra de sabão feita em casa, com óleo reciclado, e uma mangueira que provavelmente vem de uma nascente ou do rio. Sensacional! 


Seguimos viagem 'babando' nas paisagens que formavam-se a seguir... algumas com interferência humana, como uma ponte ou uma porteira, mas a grande maioria apenas com as criações e interferências divinas...










Embora estivéssemos ansiosos por chegar em Diamantina, era inevitável parar muitas vezes para fazermos fotos.




Quando perdíamos nossos companheiros de vista, aguardávamos em uma sombra. Nesses momentos, aproveitávamos para nos reabastecer. Nossa companheira Maria, ainda sentia muito fraqueza, mas seguia firme e forte, sem reclamar!



Quando todos chegavam, seguíamos viagem. O caminho ainda tinha muitas subidas, mas hoje, pegamos longas retas e descidas...


Após quase todas as descidas do caminho, chegávamos a uma ponte e aqui não fora diferente... ao descermos, passamos sobre um pequeno riacho. Filipe e eu paramos para aguardar o pessoal e, de repente, pararam também dois rapazes em uma moto. Eles nos cumprimentaram e seguiram para o riacho, a fim de beber água. Perguntamos se a água era mesmo potável e eles afirmaram que sim, mostrando inclusive sua nascente. Quando todos chegaram, os rapazes já tinha ido embora. Avisamos que a água era limpa e rapidamente todos passaram a beber e a se refrescar. 





É claro que sempre havia um ser entre nós, que não se contentava em apenas beber da água, né... tinha que entrar, de cabeça e tudo! Isso ai, Carlão, você está certíssimo! Acho que ele foi quem mais aproveitou de todos nós!!


Percorrer este trecho com o visual da Serra do Espinhaço e Pico do Itambé, sinceramente, me fazia suspirar... que beleza!!





Seguimos em frente e rapidamente chegamos a Ribeirão do Inferno, com uma bela ponte e um rio onde muitos banhavam-se. 




De acordo com meu amigo peregrino, Oswaldo Buzzo, uma moradora local contou a ele que este lugar leva o nome de Ribeirão do Inferno, devido a uma mina ter desmoronado sobre 150 escravos, que trabalhavam na mineração de diamantes.



Á partir daqui, pegamos um fortíssimo aclive que, para nossa tristeza, fora asfaltado a pouco tempo. Sinceramente cheguei a pensar que seria impossível subir pedalando, mas consegui! Ao chegar no ponto máximo, Carlão, Filipe e eu paramos sob uma sombra para aguardar nossos companheiros de viagem. 



Assim que todos já haviam se recuperado, seguimos por uma descida e logo que encontramos um bar, paramos novamente, pois precisávamos nos reabastecer... olha a carinha de ânimo ante a super temperatura que estava...


Mas estávamos bem perto! Seguimos por mais alguns quilômetros e adentramos Diamantina, pelo lado menos abastado da cidade. Eu havia dito a meu marido que aqui, era muito mais bonito do que Ouro Preto e ele, ao chegar, me disse: 'Acho que você está ficando louca, comparar isso aqui com Ouro Preto'... eu até tentava explicar que a cidade era muito grande e a parte central era diferente, mas ele não estava 'botando muita fé' no que eu dizia. 

Foram os últimos quilômetros mais difíceis que já fiz, tanto pela temperatura como pelas longas subidas. Para 'ajudar', as subidas eram feita em calçamento de pedra. Apenas Carlão e Filipe deram conta de subir pedalando. Nós, pobres mortais bicigrinos, empurrávamos e parávamos a cada sombra... acho que levamos uns 40 minutos para fazer uns 5 km. Mas chegamos! Chegamos ao centro histórico, chegamos na parte bela da cidade, onde até meu marido concordava comigo sobre sua beleza... chegamos ao fim de um sonho, de um grande desafio, de uma grande empreitada feita por um grupo que, a cada dia, se mostrou mais forte e unido! Chegamos com lágrimas de suor e praticamente de sangue para conseguirmos compreender que o caminho dos 'escravos' nunca fora fácil para ninguém, no passado, e ainda continua não sendo. Mas nós o vencemos! Não permitimos que o desânimo e o cansaço nos derrotasse. E quase que arrastados, seguimos para a parte mais central de Diamantina, para que juntos pudéssemos tirar a nossa grande foto, aquela, do GRÃ FINALE!



Mas o caminho só termina quando recebemos o certificado... por isso, seguimos até as 'Minhas Gerais' para retirar nossa 'carta de alforria'.




Certificado e assinatura concluídas, pegamos nosso prêmio, que merece ser no mínimo emoldurado e posto em uma bela parede, como nosso merecido troféu! 




Como a agência localizava-se no primeiro andar, pude passar um tempo naquelas belas sacadas, que tanto eu aprecio!

 

Amigos 'alforriados', é hora de curtirmos nossa liberdade no Café Baiucca, mas é claro que, regada a muita 'loira gelada'...


Após nossa singela comemoração, seguimos, desta vez separados de Verinha e Zé, para o Hostel Diamantina. Para nossa alegria, o quarto e pousada são bem limpinhos! Por uma questão de custos, preferimos ficar em um quarto coletivo que, sinceramente, acho muito divertido! Me faz lembrar de minha infância, quando dormíamos todos os primos em um mesmo quarto. 

Após nossos merecidos banhos, Maria preferiu ficar descansando, enquanto Claudinha, Carlão, Filipe e eu seguimos para o centro da cidade. Na ida, sem 'querer' saímos na rua do Passadiço da Glória. Pausa para algumas fotos!




Na sequência, pudemos aproveitar para fazer mais uns click's a meia luz, de um dia mais que perfeito!









Ao chegarmos no centro, nos encontramos novamente com nossos queridos amigos, Zé e Verinha, e seguimos todos juntos para o nosso jantar. Hoje, Filipe e eu, comemos um prato tipicamente mineiro, enquanto nossos queridos amigos preferiram comer uns petiscos. 


Ao terminar este grande dia, me sentia muito aliviada, feliz e satisfeita, por saber que todos nós fomos capazes de juntos concluir o que havíamos proposto fazer. Mais do que uma viagem que permitira fotos e recordações inesquecíveis, conquistamos um relacionamento amigo que com certeza transcendem laços de confiança e companheirismos. Em nenhum momento nos desentendemos ou abandonamos alguém e todos contribuíram para isso! Eu só tenho a agradecer a toda a generosidade de Claudinha, sempre pronta a oferecer de suas coisas materiais, quando percebia que não tínhamos; da prontidão de Carlão, sempre disposto a ir ou voltar a algum lugar, para que tivéssemos certeza de que estávamos no caminho certo; do sempre e inesquecível sorriso de Verinha, com suas palavras cheia de confiança, que chegaríamos ao final; da perseverança de Maria, que embora estivesse sofrendo muito fisicamente, me acompanhou silenciosamente e em alguns momentos me olhava com olhar de agradecimento; da perseverança de Zé,  que embora tivesse a pior de todas as bikes em MOMENTO ALGUM RECLAMOU; e o que dizer do melhor homem que já conheci, que há pouco mais de um ano deixou toda sua vida para trás para me acompanhar nas loucuras desta vida que escolhemos viver?? Um grande e imenso super obrigada a todos vocês. Obrigada por me compreenderem, quando as coisas não saiam como o planejado, por me elogiarem quando as coisas davam certo, por me apoiarem quando desanimei, por me ajudarem com minhas bagagens e acima de tudo por estarem comigo quando vencemos... 

Obrigada amigos

Obrigada Filipe, meu amor

Obrigada Jeová, meu Deus

Obrigada VIDA....
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Reserva confirmada no Diamantina Hostel
Fone 38.3531-2003 / 3531-5021
diamantinahostel@hotmail.com
R$ 60,00 - com café da manhã - tem cozinha

http://www.diamantinahostel.com.br/
Fonte: 

9 comentários:

  1. Ah!!!! Me emocionei novamente.Obrigada você que nos permitiu viajar novamente através desse relato fantástico. Serei sempre grata por você ter compartilhado conosco momentos inesquecíveis.Que outras viagens aconteça .Bjs no coração.

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    1. Obrigada Verinha! Seu ânimo foi imprescindível para o nosso sucesso... Bjs no coração

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  2. Olá Cláudia. Maravilhoso relato. Eu e mais 3 amigos iniciamos nossa cicloviagem pela Estrada Real em 04/jan/2015, partimos de Diamantina. Contudo tivemos que abortar a missão em Morro do Pilar, (com apenas 190 Km pedalados) em 08/jan, pois estávamos muscularmente esgotados, desidratados e com problemas alimentares (comemos muita carne de porco e outras frituras). Para piorar optamos pelo caminho do Guia do Antônio Olinto - que é 70 Km mais longo que o do Institudo da Estrada Real (seguindo os marcos). Gastamos muita energia para visitar a cachoeira do Tabuleiro pedalando. Nós tinhamos carro de apoio e não carregamos alforges, por isso quer parabenizar todo seu grupo, pois vcs foram guerreiros e as caronas realmente foram necessárias, caso contrário é provável que vcs tivessem alguma lesão muscular. A viagem tem que ser gostosa, quem quer sofrer que fique no escritório tabalhando. Abraço. Se quiser ver nossas fotos: https://www.facebook.com/duiliogeografia/media_set?set=a.10153560173461982.720446981&type=3

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    1. Obrigada Duilio! Lamento terem parado, mas confesso que por várias vezes pensei o mesmo. Quem sabe numa próxima vez seja possivel concluir ou continuem de onde parou, pois agora com mais experiência poderão ter sucesso! Obrigada

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  3. Maravilhoso o relato e a aventura, assim como as fotos, que estão de ótima qualidade. Parabéns.

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    1. Obrigada Fernando! O caminho nos concede muitas paisagens para isso... bjs

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  4. Parabéns a todos os envolvidos pelo ânimo, coragem e companheirismo ao longo desta aventura pelo Caminho dos Diamantes. Parabéns em particular para a Cláudia pelo ótimo trabalho em organizar os interessantes textos e belas imagens desta série de postagens, muito úteis para aqueles estão se preparando para realizar este caminho.
    Desejo novas e agradáveis jornadas aos que têm o desprendimento de espírito de sair de sua zona de conforto em busca de novas experiências.

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    1. Obrigada Sylvio! Foi uma aventura maravilhosa e seu incentivo nos motiva a continuar com certeza! Valeu...

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  5. Lindo relato! Parabéns! Acabei de fazer o trajeto Diamantina/Ouro Preto neste sábado, mas iniciando em Santana do Riacho, seguindo até Diamantina, cerca de 250km a mais. Fiz o trecho sozinho e é maravilhoso. Grande abraço a todos vcs!

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